Tag Archives: Salinas

Pedalando pelo Equador

Chimborazo

Chimborazo, o maior vulcão do Equador.

A inspiração para as férias veio de um blog que sigo, o While Out Riding, do Cass Gilbert. Junto com os irmãos Dammer, ele pedalou a Transecuador e teceu mil elogios ao país.

Decisão tomada e passagens compradas, começamos a pesquisar sobre cicloviagens pelo Equador e a ansiedade crescia a cada foto de paisagem bonita que víamos ou relato interessante que líamos. E, como nenhum de nós conhecia o Equador, achamos legal descobrirmos esse país juntos.

Quito

A viagem começou na capital do país, Quito, onde passamos quatro dias para descansarmos da correria pré-férias e conhecermos um pouco da cidade.

Pichincha

Teleférico em Quito.

Seguindo a dica do Mathias Fingermann, fomos pedalando até o teleférico que leva ao vulcão Pichincha e subimos com as bikes. O ingresso custava 8 dólares por pessoa, porém, como desceríamos de bicicleta, pagamos 6 dólares para os dois.

Esse desconto existe porque ali há uma pista de downhill. Muitas pessoas sobem com o teleférico, mas descem pedalando e algumas cabines têm até um suporte para pendurar bicicletas. Só que ao invés de encarar esse downhill, optamos por uma estrada que segue para a zona sul da cidade.

O começo era cheio de pedras, mas depois se transformou numa estrada de terra batida. Aos poucos, começaram a surgir algumas casas até que chegamos ao início de um bairro. Fomos pedir informação a um agente de trânsito que estava ali, pois havia uma bifurcação. Ele não quis nos deixar seguir pedalando, pois ali era perigoso e blá-blá-blá e tivemos que “pegar uma carona” num ônibus de linha, que nos deixou no centro histórico, de onde continuamos pedalando.

Vimos muitas pessoas pedalando em Quito e há investimentos na cidade para incentivar esse modal. Além de algumas ciclovias, há bicicletas públicas para alugar e, aos domingos, uma das principais avenidas da cidade, a Avenida Río Amazonas é fechada para carros e por ali circulam apenas pedestres e bicicletas.

Apesar disso, achei um pouco tenso pedalar em Quito. A buzina impera e os motoristas, em geral, são imprudentes. As rotatórias em algumas grandes vias também não são muito convidativas para ciclistas.

Palugo

Nosso primeiro dia pedalando foi de Quito para a vila Palugo. A saída indicada pelo Google Maps era pela mesma estrada que liga a cidade ao aeroporto e, próximo à entrada do túnel, há uma faixa enorme proibindo bicicletas. Pedimos informação para dois guardas de trânsito e eles nos mandaram exatamente por ali.

Ainda no Brasil, tinha entrado em contato com os irmãos Thomas, Mijael e Mathias Dammer e combinamos uma visita. Eles moram nos arredores de Quito e trabalham com agricultura orgânica, além de serem guias de montanha.

O sítio Nahual é lindo e a estrutura visa à sustentabilidade: água aquecida por meio de energia solar, banheiros secos, construções de adobe. Fomos à casa de um dos irmãos e adoramos o que vimos. Tendo como principais materiais o adobe, a madeira e o vidro, o sobrado é bastante aconchegante.

No começo da noite, nos reunimos com os três e, munidos de mapas e de um notebook, fomos refinando a rota previamente traçada. Eles já pedalaram todos os caminhos que queríamos fazer e tinham dicas excelentes.

Só achei curioso o fato de eles não passarem as distâncias em quilômetros. Quando perguntava sobre a quilometragem de uma cidade para outra a resposta era em tempo. “Ah, de Isinlivi para Quilotoa é um dia de pedal.”

Cotopaxi

Nos despedimos dos irmãos e pedalamos um trecho urbano no sentido do aeroporto antes de entramos na ciclovia El Chaquiñán. São cerca de 21 km ligando as cidades de Puembo a Cumbayá com paisagens bem bonitas. Cruzamos com alguns ciclistas treinando por ali e acabamos pedalando mais do que precisávamos, pois nossa saída era em Tumbaco.

El Chaquiñan

Ciclovia El Chaquiñan.

Deveríamos passar por um tal de Portal de Villa Vega, porém, nosso esquema de PPS (pare-pergunte-siga) não estava funcionando muito bem, pois cada pessoa com quem conversávamos nos indicava um caminho diferente. Como tínhamos o nome do nosso próximo destino, aproveitamos uma lan house para checarmos a rota. Direção mais ou menos confirmada, partimos rumo à vila La Merced, onde passamos a noite.

Depois de tomarmos café da manhã e abastecermos nossa “despensa”, pegamos a estrada. O começo tinha muitas pedras e subidas, mas ficamos muito animados quando avistamos, pela primeira vez, o Cotopaxi. Pegamos um trecho de rodovia, porém, logo voltamos para estradas de paralelepípedos. Embora estivéssemos subindo constantemente, a inclinação não era ruim. O que segurava nosso ritmo era a irregularidade da estrada.

Pela rota que pesquisamos, seria um dia apenas subindo. Por isso, quando começamos a descer bastante eu já sabia que havíamos errado o caminho. Pedimos informação para um senhor que passava por ali de trator e ele nos disse que estávamos perto da vila de Patichubamba, uma das referências de rota dos irmãos Dammer. Menos mal.

Ainda faltavam 30 km até o Parque Cotopaxi e não chegaríamos lá com luz do dia. Por isso, aproveitamos a hospedagem encontrada no caminho e encerramos os trabalhos mais cedo. O senhor que nos recebeu no camping fez questão de frisar que estávamos a 2.970 m acima do nível do mar.

Cotopaxi

Da estrada para a trilha, a caminho do Cotopaxi.

No dia seguinte, tivemos um início tranquilo. Já estávamos a mais de 3.000 m e ainda havia bastante vegetação. Depois de uma estradinha que lembrava a Mantiqueira, veio mais uma dúvida sobre o caminho. Tínhamos que cruzar um rio, mas não encontrávamos a ponte para atravessarmos. Deixamos as bikes num canto e fomos checar a trilha a pé. Encontramos uma pequena ponte de madeira e foi por aí mesmo que seguimos.

Saímos num cruzamento de estradas e aproveitamos para almoçar no restaurante que há ali. Milho e favas cozidos acompanhados de queijo branco. Ficamos um tempo conversando com o dono do lugar e um senhor que apareceu logo depois.

Pedalamos os últimos quilômetros até o parque com vento contra, um pouco de chuva e frio. A passagem pelo Control Norte foi tranquila, tivemos apenas que apresentar nossos passaportes para registro e não pagamos nada. Seguimos de lá para a hospedagem Tambopaxi.

Cotopaxi

Luzes acesas no Refúgio José Ribas.

Ao escolhermos a hospedagem, resolvemos nos mimar um pouco. Ao invés de camping ou alojamento, optamos por um quarto não compartilhado, o que, no Tambopaxi, significa um quarto na ala VIP. Além do banho mais quente da viagem, tínhamos uma vista incrível para o vulcão e decidimos passar duas noites ali.

Depois do descanso, continuamos a viagem dentro do parque. O pedal começou com um pouco de vento contra que se tornava a favor conforme as curvas do caminho. Pela primeira vez na viagem, passamos dos 4.000 m.

Cotopaxi National Park

Com a chuva, veio o frio.

A subida estava tranquila até a chuva começar. A combinação de vento, chuva e altitude fez com que a sensação térmica caísse muito rapidamente. As mãos estavam bastante geladas e, mesmo colocando luvas mais quentes, elas não esquentavam.

Queríamos chegar a uma cabana abandonada indicada pelos Dammer, porém, no meio do caminho tinha um portão e um aviso de que se tratava de propriedade privada. Ficamos alguns minutos parados ali e, enquanto pensávamos no que fazer, a chuva foi aumentando. Decidimos voltar um pouco, sair da estrada e levantarmos acampamento.

Cotopaxi

Nada mal acampar com essa vista.

Ficamos algum tempo na barraca, ouvindo a chuva cair e nos aquecendo. Quando ela passou, fomos explorar o lugar e nos surpreendemos ao perceber o quão perto do Cotopaxi estávamos. O tempo fechado de antes tinha escondido o vulcão completamente. Dormimos a 4.050 m acima do nível do mar, com um vulcão no “quintal” da nossa barraca e temperatura próxima de 0°C. Foi uma ótima noite!

O dia amanheceu sem chuva, mas o tempo ainda estava um pouco fechado. Refizemos o caminho do dia seguinte, aproveitando para fotografar um pouco. O vento estava mais forte do que no dia anterior e, quando soprava contra, nos obrigava a pedalar até nas descidas.

Cotopaxi

Vida selvagem no Parque Nacional Cotopaxi.

Passamos pela Laguna de Limpiopungo, que tem uma ótima vista do vulcão Rumiñahui, e depois seguimos para o Control Sur, saindo do Parque Nacional do Cotopaxi. Pegamos um trechinho da rodovia Panamericana e logo chegamos à cidade de Lasso, onde passamos a noite no hostel Cabaña de los Volcanes.

Quilotoa

A saída de Lasso foi chatinha, pois começava numa rodovia estreita e com muitos caminhões. O movimento foi diminuindo e, na primeira bifurcação com placa para Isinlivi, voltamos a pedalar numa estrada de pedras, numa subida suave.

Depois veio a primeira serra com curvas tão fechadas que a apelidamos de “caracoliños”. Pelo caminho, cruzamos com muitas caminhonetes que fazem o transporte de camponeses, moradores e alunos da região.

Isinlivi

Caracoliños no caminho para Isinlivi.

Com poucos quilômetros rodados, já percebemos uma grande mudança na paisagem e nas feições das pessoas. Esta é uma região mais rural e havia muitas plantações, que quase nunca conseguíamos identificar. E a população tem traços mais indígenas e usa roupas tradicionais, principalmente, as mulheres.

Logo alcançamos a segunda serra e o vento contra não dava trégua. Já tínhamos passado dos 3.000 m e cada vez que parava para recuperar o fôlego, ficava impressionada com o quanto tínhamos subido.

Isinlivi

Depois de chegarmos a 3.900m, começou a descida para voltarmos aos 2.900m.

A descida foi longa e gelada: cerca de 15 km de muitas curvas, pedras e névoa que escondia parte do caminho. Ficamos hospedados no hostel Taita Cristobal e gostamos muito. Pagamos 14 dólares por pessoa por um quarto com banheiro privativo e esse valor incluía também o jantar e o café da manhã. E ainda ficamos um bom tempo conversando com o dono, o Paco.

Queríamos sair cedo, porém, amanheceu chovendo e, enquanto esperávamos o tempo melhorar, ficamos jogando dominó. Depois de três partidas, fomos para a estrada. Logo no começo, encaramos uma boa descida seguida de uma boa subida. Isso foi apenas uma prévia do dia, que teve muito sobe-e-desce e um pouco mais de chuva.

Fomos passando por vários pueblos indicados pelo Paco e quase todas as pessoas que encontramos pelo caminho nos cumprimentavam e algumas ainda perguntavam de onde estávamos vindo e para onde iríamos. Era só falar Quilotoa para ouvir “ih, estão longe”.

Tunguiche

Os irmãos Gilmar, Emerson e Danilo voltando da escola em Tunguiche.

O trecho de Tunguiche para Pilapuchin foi bastante cansativo. De novo subimos um “caracoliños”, só que desta vez combinado com areia, que passou a fazer parte do caminho por vários quilômetros.

Passamos por uma bifurcação para Shalala, mas seguimos no caminho para Quilotoa, pois não sabíamos como era a estrutura da vila. Depois descobrimos que foram feitos investimentos em Shalala para receber turistas que querem visitar a Laguna Quilotoa: camping, pousada, restaurantes e um deck de observação.

Quilotoa

Descendo até a beira da lagoa Quilotoa.

A vila Quilotoa funciona em torno da laguna. O comércio por ali é formado basicamente por hostels, restaurantes, lojas de souvenirs e vendinhas.

Tinha lido uma recomendação sobre o hostel Cabañas Quilotoa e o fato de ter aquecedor em cada quarto me animou a ficar ali. Como era logo na entrada da vila, infelizmente não vimos as outras opções. Pagamos 20 dólares por pessoa com jantar e café da manhã. O problema é que o lugar era sujo e as donas agiam como se estivessem nos fazendo um favor e não prestando um serviço.

No dia seguinte, fomos até a beira da laguna. Um guia online indicava meia hora para descer e uma hora para subir. Subimos em 40 minutos, mas com várias paradas para descansarmos um pouco. Há quem alugue mulas para evitar esse desgate.

Depois de almoçarmos, fomos para Zumbahua. Sem dúvida, foi o pedal mais fácil da viagem toda: 12,4 km de descida. Nessa região, há várias feiras tradicionais, que acontecem cada dia da semana em uma cidade diferente. A de Zumbahua é aos sábados e não queríamos perdê-la.

Zumbahua

Mercado em Zumbahua.

Levantamos cedo e fomos primeiro ver a feira de animais, que acontece a algumas quadras da praça. O negócio funciona com os donos dos bichos parados segurando os animais presos a cordas a espera dos compradores. Havia muitos porcos, ovelhas e algumas lhamas. A outra feira tinha barracas de frutas, de secos e molhados, roupas, sapatos, lã e comida. Aproveitei para comprar algumas frutas.

A feira traz vida para a cidade. Tivemos a impressão de que muitos que ali estavam usavam suas melhores roupas, como se aquele fosse o momento mais esperado da semana. Depois de fazermos muitas fotos, fomos pegar o ônibus para Angamarca.

Chimborazo

Embarcamos num ônibus lotado e viajamos quase o tempo todo em pé. Os bagageiros estavam cheios e as bicicletas foram no teto do ônibus. A cada virada brusca na beira de precipícios, eu ficava agoniada com medo das bikes saírem voando.

Desde o momento em que descemos do ônibus tive uma sensação ruim em relação à Angamarca. Conversamos com poucas pessoas ali, mas parecia que queriam sempre tirar algum proveito. Para ajudar, começou a chover forte e o caminho por onde deveríamos seguir ficou intransitável até para 4×4. Ou seja, seria uma subida íngreme escorregando na lama.

Acabamos voltando para Zumbahua e, de lá, seguimos para Latacunga, onde passamos a noite e refizemos nosso roteiro. Demos mais um descanso para nossas pernas e fomos de ônibus até Riobamba. Não tinha lugar para sentarmos e o cobrador falou para irmos na cabine com o motorista. Conversamos tanto que fui a viagem inteira ali.

Chimborazo

Visão privilegiada do Chimborazo.

Saindo de Riobamba, pegamos uma estrada secundária para irmos ao Chimborazo. Por boa parte do caminho, pedalamos em direção a nuvens escuras e sem qualquer visão do Chimborazo. Porém, conforme nos aproximávamos, o tempo foi melhorando e logo as nuvens começaram a se dissipar.

Passamos por um pueblo bem na hora da saída da escola. As crianças ficaram ao nosso redor, bastante curiosas. Numa subida, duas menininhas começaram a empurrar a bicicleta do Artur e depois vieram fazer o mesmo comigo. Descemos das bikes e fomos andando lado a lado e conversando um pouco com elas.

Antes da estrada de asfalto para a Reserva do Chimborazo, encontramos um local perfeito para acamparmos com vista privilegiada para o vulcão. Deixamos as bikes na estrada e fomos procurar um lugar para montarmos a barraca. Nisso, um carro de polícia parou. Os policiais não tinham nos visto e ficaram intrigados com as bikes no caminho. Fomos conversar, explicamos sobre a viagem e perguntamos se era permitido acampar por ali. Um deles respondeu: proibido não é, mas é perigoso. Eles foram embora e pensamos: não passa ninguém aqui, como vai ser perigoso?

Chimborazo

Irmãs curiosas.

Foi só falarmos e uma caminhonete estacionou e dela saíram duas mulheres, um homem e duas crianças. Eles tinham ido ali cortar capim para aquecer os animais. O Artur ficou cerca de uma hora conversando com o cara e eu, com as crianças. As mulheres cortaram todo o capim sozinhas e o cara ficou apenas observando.

Resolvemos procurar outro lugar para acampar e seguimos em frente até uma vila que parecia abandonada. O Artur foi na frente e logo voltou dizendo: há uma opção de hospedagem, por 12 dólares o quarto ou podemos acampar de graça. Converse com a belga que está por lá. E ele voltou para a estrada para tirar fotos do Chimborazo, que estava lindo nesse final de tarde.

Chimborazo

Camping próximo ao Chimborazo.

Tínhamos lido sobre a Casa Condor em algum site, mas o lugar parecia abandonado e foi uma surpresa encontrarmos os belgas Justine e Edward. Optamos pelo camping, mas aproveitamos a cozinha para prepararmos o jantar e muito chá.

Logo chegaram os mexicanos Cynthia e Gustavo que estão viajando num Fusca. Ambos os casais têm a meta de chegar a Ushuaia. Porém, os belgas juntaram dinheiro e planejam viajar por um ano, enquanto os mexicanos estão na estrada há dois anos e vão trabalhando pelo caminho para bancar a viagem.

Mesmo tendo ido dormir tarde por causa das boas conversas, acordamos cedo por causa do barulho do vento. Arrumamos nossas coisas e tomamos café da manhã com calma, antes de nos despedirmos dos casais.

El Arenal

Atravessando a região desértica El Arenal.

Tínhamos bastante subida pela frente e muito vento, em alguns momentos a favor, mas quase sempre contra. A maior parte do caminho foi pela região El Arenal, um ecossistema chamado de páramo seco, de clima desértico.

Nas laterais da estrada, havia barrancos que pouco a pouco estão sendo desgastados pela erosão causada pelo vento. Pudemos sentir um pouco disso na pele, pois o vento trazia areia e até algumas pedrinhas que batiam com força no capacete e no rosto.

El Arenal

Vicuñas.

El Arenal é também uma área de preservação da vicuñas e tivemos a sorte de encontrarmos dois grupos grandes desses animais na beira da estrada.

Quando cruzamos a estrada Ambato-Guaranda, nos despedimos do Chimborazo. O vento contra com areia ficou ainda pior e eu tive dificuldade de pedalar nesse trecho. Mas logo veio a descida. Chegamos a um pequeno povoado e ali decidimos seguir por um trecho de downhill. Foram 7km descendo ao lado de um vale lindo e então chegamos à Salinas.

Salinas

Tinha lido sobre a cidade no blog do Cass, mas eu quis conhecer o lugar depois de ler um post que o Artur achou na internet. Salinas tem esse nome porque, 40 anos atrás, sua economia girava em torno de uma mina de sal, que pertencia a uma família muito rica. Até que um padre italiano foi morar na cidade e decidiu por fim a esse monopólio. Ele conseguiu empréstimos e organizou uma cooperativa para produzir queijo.

Salinas

Queijaria em Salinas com capacidade para processar 10 mil litros de leite por dia.

Esse modelo deu tão certo que começaram a surgir outras cooperativas e, atualmente, são 30 pueblos integrados com Salinas produzindo queijos (gruyére, parmesão, dambo e outros), chocolates deliciosos, lã de alpaca e de ovelha, frutas e cogumelos desidratados, produtos de soja e até bolas de futebol. Alguns produtos são exportados para Alemanha, Itália, Finlândia e Japão.

Salinas

O Tour Salinerito passa pelas principais fábricas da cidade. Pagamos 15 dólares para duas pessoas.

Depois do tour, sentamos num banquinho da praça e fomos abordados pela polícia da imigração que queria ver nossos documentos. Eles nos acompanharam até o hostel, onde estavam os passaportes, e, embora o policial tentasse manter uma pose de durão perguntando quando chegamos, por onde entramos, quanto tempo ficaríamos no país e tal, ao ouvir que estávamos viajando de bicicleta, a policial abriu um sorriso e exclamou “¡que chévere!”.

Salinas

Gianpaolo: ótima conversa e excelente comida.

Nesses dias em Salinas, conversamos bastante com um italiano que mora no Equador há 12 anos, o Gian Paolo. Fomos três vezes à pizzaria dele e ficamos, pelo menos, duas horas e meia batendo papo. De Salinas, pedalamos até Guaranda, onde pegamos um ônibus de volta para Quito.

Trechos pedalados

Palungo – La Merced 57 km – 824 m acumulados
La Merced – Molinuco 25 km – 693 m acumulados
Molinuco – Tambopaxi 30 km – 1.039 m acumulados
Tambopaxi – meio volta do Cotopaxi 28 km – 426 m acumulados
Meia volta do Cotopaxi – Lasso 53 km – 269 m acumulados
Lasso – Isinlivi 46 km – 1.108 m acumulados
Isinlivi – Quilotoa 33,8 km – 1.496 m acumulados
Quilotoa – Zambahua 12,4 km – 83 m acumulados
Riombamba – Casa Cóndor 30 km – 1.245 m acumulados
Casa Cóndor – Salinas 37 km – 1.006 m acumulados
Salinas – Guaranda 23,8 km – 217 m acumulados

Comida

Em geral, a comida do Equador não empolgou muito. As refeições quase sempre eram compostas por uma sopa (a maioria de macarrão com frango) e o prato principal com arroz, lentilha (às vezes), salada e carne.

Nas cidades pequenas, embora os restaurante até tivessem um cardápio, normalmente, havia apenas uma opção. Em Lasso, assim que sentamos, o garçom trouxe dois copos de suco e depois as tigelas de sopa. Devolvi uma delas porque tinha frango e avisei que não como carne. Ele fez uma careta e disse que só tinha arroz, salada e ovo para mim.

Na primeira noite no Tambopaxi, pedimos o menu completo. A sopa de entrada era muito gostosa: um creme de batata com queijo e uma fatia de abacate. Depois, vieram batatas fritas e carne para o Artur e berinjela para mim. Tudo estava delicioso, porém, as porções deixavam a desejar para quem tinha pedalado o dia todo. Pedi mais uma porção de sopa para cada um e eles capricharam mais.

Em Isinlivi, comemos muito! Além de sopa de legumes, comemos couve-flor e brócolis, uma salada morna de tomates, ervilhas, pimentões e cogumelos, pequenas panquecas de batata e bolinho de chuva servido com melado como sobremesa.

Zumbahua

Frutas deliciosas.

Experimentamos sucos de frutas locais como naranjilla e tomate de árbol, que, como o nome diz, cresce em árvore e é delicioso. Comi physallis direto do pé e comprada na feira e experimentei a versão mais doce que há do maracujá, a granadilla. Já sinto falta dessas frutas.

No restaurante em que almoçamos em Riobamba quase não havia opções para mim. O rapaz abriu uma exceção e me serviu um prato do menu do café da manhã: patacones (banana verde frita) recheados com queijo e acompanhados de ovos fritos. Não me imagino começando o dia com uma refeição dessas.

Nos primeiros dias em Quito, fomos à cervejaria Cherusker. Fiquei feliz por encontrar um hambúrguer vegetariano no cardápio. Estava bom, mas não era nada demais. As cervejas da casa, por outro lado, são muito boas.

Para encerrar a viagem, em nossa última noite no Equador, fomos comemorar na Cervecería Abysmo. A parte de comida era fraca. Não havia nenhuma opção vegetariana, mas eles modificaram o prato de nachos para mim. Ainda assim, tinha tanto queijo cremoso que fiquei logo enjoada. Pelo menos, as cervejas deles são muito boas! Aproveitamos uma promoção e tomamos três tipos: vanilla coffee ale, honey ale e a weissbier da casa.

Enfim

Chimborazo

Terra de vulcões.

As paisagens equatorianas são realmente lindas e não é preciso percorrer grandes distâncias para ver cenários bastante diversos. As pessoas foram muito amigáveis e o fato de estarmos de bicicleta nos permitiu ter um contato maior com elas, que, em alguns casos, nos paravam no meio da estrada para conversar.

Essa viagem foi completamente diferente de todas as que eu tinha feito até então. E foi, sem qualquer dúvida, uma das mais gostosas!

Mais fotos no Flickr.