Pirineus de Ariège

Na GR-10 em direção ao Mont Valier.

Para escolher o destino das últimas férias eu tinha dois critérios: ser um lugar bom para caminhadas e que não ficasse muito longe para que a viagem até lá não fosse tão demorada. Assim, escolhemos os Pirineus e um amigo do Artur ainda recomendou o lado francês mais ao sul.

Voamos até Toulouse sem um roteiro definido, então aproveitamos para caminhar a esmo pela cidade e descansar um pouco. Fomos a cafés e feiras locais, passeamos ao longo do rio, olhamos algumas lojas de bike e ficamos horas no Museu de Toulouse.

O que mais me impressionou foi a estrutura cicloviária da cidade e gostei de ver ciclistas para todos os lados. O relevo plano ajuda, mas o planejamento urbano é um fator de peso. Foi a primeira vez que vi placas indicando que o ciclista pode circular nos dois sentidos mesmo que a rua seja de mão única para carros. Genial.

Havia abundância de água por todos os lugares onde passamos.

Depois de um fim de semana prolongado na cidade, alugamos um carro e seguimos por estradinhas menores até o Parque Natural Regional dos Pirineus de Ariège (Parc Naturel Régional des Pyrénées Ariégeoises). Ficamos hospedados num chalé nas montanhas, ou como eles dizem, um “gite”. A vista era maravilhosa, mas as nuvens faziam uma brincadeira de esconde-esconde com as montanhas.

Tivemos como anfitrião um simpático escalador inglês que se mudou para os Pirineus para ficar perto das montanhas. Ele desenhou um mapa com sugestões de trilhas no entorno da cabana e também nos deu a preciosa dica sobre a Cascade d’Ars.

Em nossa primeira manhã, fomos fazer uma das voltas traçadas pelo Lee. A maior parte era dentro da floresta, mas havia trechos de onde podíamos ver as montanhas ao redor. Paramos por uns 10 minutos num posto de observação para comermos e admirarmos a paisagem e pouco depois fomos apanhados pela chuva.

Vista a partir da Cascade d’Ars.

No dia seguinte, fomos até Aulus-les-Bains para conhecer a Cascade d’Ars. Ao invés de irmos e voltarmos pelo mesmo caminho, optamos por fazer um loop e passar por cima da cachoeira. Essa trilha nos levou a um vale com vista para o rio e para as montanhas. Foram 14 km e mais uma vez terminamos molhados. Na hora em que a chuva ficou mais forte, tive receio de que acontecesse o mesmo que em Gredos, quando tivemos que mudar o trekking para evitar riscos de queda, mas terminou tudo bem.

Cirque de Cagateille com suas diversas cachoeiras.

Com a chuva intensa, no terceiro dia, saímos sem destino definido e aproveitamos para visitar algumas aldeias da região. Seguimos por uma estradinha estreita que parecia levar a lugar nenhum, mas chegamos a um ponto de partida para algumas trilhas. Almoçamos no carro e, quando a chuva deu uma trégua, fomos fazer uma caminhada curta até o Cirque de Cagateille.

Impressionada com a água em abundância nessa região, eu queria muito tomar um banho de rio. Porém, embora a trilha seguisse paralela a um rio, a correnteza era muito forte e a água extremamente gelada. Quando finalmente encontrei um pedacinho da margem em que a água seguia mais tranquila, não consegui aguentar nem cinco minutos com os pés na água.

Apreciando um Kir de La Maison na Maison du Valier.

No nosso último dia em Aleu, o sol brilhava forte e o céu estava sem nuvens. Seguimos animados para o próximo destino: La Maison du Valier, uma “gite d’etape” e um dos pontos de partida para a subida ao Mont Valier. Fizemos uma reserva de meia pensão, para não termos de nos preocupar com o jantar e fomos recebidos por uma família muito simpática que toma conta do lugar. Comemos aqui as melhores refeições da viagem: comida caseira francesa, bem temperada e muito farta.

Na manhã seguinte, quando começamos a subida, encontramos um grupo de cinco ou seis rapazes que levavam varas de pesca nas mochilas carregadas. Achei curioso.

A foto não faz jus ao que vi pessoalmente, a Étang Rond me deixou sem palavras.

A subida até a cabana de Caussis, embora íngreme, foi tecnicamente fácil e havia até uma ponte para passarmos pela Cascade de Nerech. De Caussis, seguimos pela direita por mais ou menos 1 km até o Étang Rond. Quando chegamos perto do lago e vi aquela água límpida com as montanhas nevadas ao redor senti uma emoção tão grande que nem consigo descrever. Era a natureza mostrando toda a sua imponência. Ali também entendi o porquê das varas de pescar já que havia uns tantos pescadores a atirarem suas iscas na água depois de 4 horas de caminhada montanha acima.

Um pouco escorrega mesmo.

Aqui ocorreu a primeira mudança de planos já que a trilha que pretendíamos seguir estava cheia de neve escorregadia e era um tanto exposta. Também vimos resquícios de pequenas avalanches no entorno do lago. Decidimos voltar até Caussis e pegar o caminho da esquerda em direção ao Refúgio les Estagnous. Como não tínhamos bastões de caminhada, nem crampons, abortamos essa ideia a cerca de 300 m do refúgio. Não me senti muito confiante com a trilha exposta e a neve escorregadia. A descida também foi um tanto molhada. Com as temperaturas mais altas, a neve começou a derreter e descia pela trilha como um pequeno riacho.

Voltei encantada com a França e com a paixão dos franceses por atividades ao ar livre, com pessoas de todas as idades caminhando e pedalando. Vale destacar ainda o encontro com uma dupla espanhola em cicloviagem pelos Pirineus. Há ainda muitas trilhas e rotas bem sinalizadas, estacionamentos municipais gratuitos para vans e motorhomes, áreas para piqueniques e quilômetros e mais quilômetros para serem percorridos a pé e de bicicleta. Para quem quer estar em contato com a natureza, vale muito a pena.

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